Pós-pandemia: o que mudará definitivamente no comércio exterior?

Se é inegável que todas as economias do mundo sofreram consideravelmente com a pandemia da covid-19

Se é inegável que todas as economias do mundo sofreram consideravelmente com a pandemia da covid-19, também é correto dizer que o comércio exterior foi profundamente afetado pela maior crise sanitária do mundo globalizado. Nos primeiros meses, suspensões, embargos e barreiras entre os países fizeram o trânsito de mercadorias cair drasticamente em todas as partes do planeta, causando prejuízos que até agora não foram devidamente calculados. Depois, ainda em 2020, quando o volume de transações começou a ser retomado, o mundo assistiu a uma superinflação nos custos logísticos por causa da falta de contêineres, entre diversas outras dificuldades que ainda persistem e talvez demorem mais algum tempo até serem totalmente sanadas. Em alguns casos, dificilmente o cenário retornará ao que era antes da pandemia. Abaixo, listamos algumas mudanças provocadas ou aceleradas pelo coronavírus que atingem diretamente as relações de comércio exterior e que deverão permanecer mesmo após a vacinação em massa de todos os países.

Grandes mais fortes

Uma das consequências mais difíceis de driblar é o fato de as grandes corporações terem ganhado força com a crise e as pequenas empresas sofrido muito com esses quase dois anos de instabilidades. A tendência para os próximos anos, apontam consultores especializados, é o crescimento das grandes redes, sobretudo no varejo, físico ou online. Com modelos de negócio mais consolidados, maior capital de giro, capacidade logística invejável e investimento pesado em marketing e soluções ponta a ponta, a competição deve se tornar cada vez mais desleal, favorecendo as multinacionais ou gigantes nacionais nos mais diferentes ramos.

A saída para os pequenos é rever seus processos, adotar mecanismos mais enxutos e pragmáticos, focando em um atendimento especial e individualizado, buscar parceiras pontuais e, provavelmente, apostar na especialização do seu catálogo, atingindo nichos específicos de mercado e aumentando sua competitividade com uma lista menor e mais qualificada de ofertas.

Emergentes mais importantes

Estudo divulgado pela empresa de consultoria Euromonitor International aponta que entre 2020 e 2040 75% do crescimento do PIB global virá dos países emergentes - aí incluídos Brasil, China e Índia, entre outros. Embora o Brasil e a América Latina tenham perdido parte do protagonismo que tiveram entre 2000 e 2015, ainda é possível aproveitar - e muito - esse potencial das próximas décadas. O desafio é conseguir alinhar políticas internas e externas às tendências mundiais. Duas das principais chaves para isso, segundo os especialistas, são impulsionar a economia local em direção a atividades e produtos de maior valor agregado e também mudanças efetivas nas fronteiras de mercado.

 

Segundo a análise da Euromonitor, China e Índia têm conseguido acelerar seu desenvolvimento com o crescimento de setores como serviços, varejo, finanças, educação e hotelaria. O investimento doméstico nestas áreas tem levado ao aumento da renda da população, o que permite aos consumidores gastar mais em bens e serviços não essenciais, gerando uma cadeia positiva para a economia interna que tem reflexos no comércio exterior.

Olho nos novos mercados

Os especialistas são praticamente unânimes: não adianta gastar cartuchos com mercados que já estão saturados ou são extremamente competitivos. É hora de começar a olhar com mais atenção e planejamento estratégico para novas fronteiras de negócio. Nas últimas semanas, publicamos uma série de artigos analisando como as empresas brasileiras podem ser relacionar, tanto nas exportações quanto nas importações, com os principais continentes do globo.

Nos próximos anos, o aumento das exportações brasileiras deverá estar intimamente ligado a uma maior aposta nos mercados hoje considerados secundários ou terciários. Ainda segundo o estudo da Euromonitor, a classe média africana deverá dar, até 2040, o mesmo salto de poder de compra que a classe média brasileira deu nos últimos 20 anos. Só na Nigéria é esperado o ingresso de aproximadamente 20 milhões de pessoas na chamada “classe C africana”. Se as empresas brasileiras souberem se preparar, poderão sair na frente na disputa por estes consumidores emergentes.