Oportunidades de negócio dentro da América do Sul

Dados do Ministério da Economia apontam que o continente é o quarto maior parceiro comercial do Brasil

Na ânsia por chegar a novos mercados espalhados pelo mundo, muitas empresas brasileiras acabam esquecendo da importância dos países vizinhos da América do Sul na hora de exportar ou importar mercadorias. Dados do Ministério da Economia apontam que o continente é o quarto maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China, União Europeia e Estados Unidos. A corrente de comércio com os países sul-americanos fechou 2020 na casa de 40,8 bilhões de dólares, sendo 22,6 bilhões em exportações brasileiras e 18,2 bilhões em importações. Considerando apenas os membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul) - que atualmente conta com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai como membros plenos -, a balança fechou o ano passado com 24,3 bilhões em negócios, sendo 12,4 bi em exportações e 11,9 bi em importações.

 

Com este cenário em tela, o artigo desta semana pretende apresentar elementos e características fundamentais para quem pensa em concretizar negócios dentro deste bloco econômico, que se torna particularmente atrativo pelas isenções dos impostos de importação para mercadorias produzidas dentro de suas fronteiras - enquanto uma determinada mercadoria pode ser tributada em 15% ou mais quando comprada da China, o mesmo tipo de produto pode ser importado com alíquota zero caso seja produzido nos países que compõem o bloco.

 

Brasil é referência

 

Se para entrar na Europa, nos EUA e na China os produtos brasileiros precisam passar por processos altamente exigentes de conformidade às regras destes países e certificações, na América do Sul a lógica é inversa: o Brasil é justamente a referência quando se trata de controle de qualidade, padronização e certificação. “Via de regra, as exigências que as mercadorias brasileiras precisam cumprir para circular no nosso mercado interno já são suficientes para que elas ingressem nos outros países do continente. Além disso, as eventuais adequações são muito mais simples de serem feitas pela similaridade cultural e pela proximidade”, esclarece Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior.

 

Esta liderança também se aplica quando o assunto é inovação e desenvolvimento de produtos. “Pela importância geográfica e econômica, o Brasil é referência em diversos segmentos. Na indústria moveleira, por exemplo, nós lançamos primeiro e os outros países ou importam nossos móveis ou copiam nossas tendências. É um padrão. O mesmo acontece com alimentos industrializados, um dos itens mais fortes dentre as nossas exportações para eles”, afirma.

 

Um bom início

 

No artigo da semana passada vimos como o principal parceiro comercial do Brasil, a China, é exigente com as empresas que ainda não têm um longo histórico de atuação no comércio exterior. Por isso, começar negociando com os países vizinhos pode ser muito interessante para quem pretende iniciar sua internacionalização. “Geralmente, vender na América do Sul é o primeiro passo das empresas porque, em tese, é mais fácil e com o tempo gera a bagagem necessária para a empresa alçar voos maiores. Mas costumamos dizer que sempre depende do tipo de produto. Às vezes o primeiro negócio internacional é logo com um comprador dos Estados Unidos, isso acontece muito com produtos de madeira maciça ou mercadorias muito tecnológicas. O importante é fazer uma análise criteriosa dos mercados para inserir a marca ou produto no filão mais lucrativo”, avalia Kono.

 

Vantagens logísticas

 

Outra vantagem interessante é a logística mais simples e barata em muitos casos. Enquanto o modal marítimo é obrigatório quando se trata de vendas para outros continentes, as vias terrestres podem ser atrativas em boa parte das situações. “Depende, fundamentalmente, da localização da empresa brasileira e do destino da mercadoria. Se estou baseado no Paraná ou em São Paulo e vou vender ou comprar de alguém no Paraguai, Argentina, Uruguai, Chile ou Bolívia, compensa utilizar caminhões. Mas se a minha base é o Nordeste, a via marítima é mais vantajosa. É importante ficar atento, também, ao clima. Há um grande comprometimento das estradas para o Chile no inverno, pro causa das nevascas na cordilheira dos Andes. Para cada caso e época do ano o segredo é estudar as vias e escolher a mais segura, eficiente e barata”, explica.

 

Queda da argentina

 

Embora ainda siga como o maior parceiro comercial do Brasil dentro do continente e um dos maiores no mundo, a importância da Argentina para o comércio exterior brasileiro vem caindo ano a ano. De 2012 para 2020, a corrente de comércio passou de 34 bilhões de dólares/ano para apenas 16 bilhões, uma queda de 53%. Isso vem acontecendo por conta da grave crise econômica atravessada por nossos vizinhos, que chegaram a criar cotas máximas de importação para quase todo tipo de produto na tentativa de conter a inflação e a desvalorização de sua moeda. Com as cotas, algumas mercadorias chegam a ficar impedidas de entrar na Argentina por vários meses, podendo até mesmo chegar a anos, o que tem inviabilizado muitas parcerias a médio e longo prazos.