Negociando com a União Europeia: cenário e dicas

Com isso, a corrente fechou 2020 em 55,1 bilhões, diminuição de 13,1% na comparação com 2019

A pandemia da covid-19 e a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) em janeiro de 2020 foram os dois principais fatores que levaram à queda na corrente de comércio entre o Brasil e o bloco europeu em 2020. No ano passado, nós exportamos 28,3 bilhões de dólares em mercadorias para os 27 países da UE, queda de 13,3% em relação ao resultado obtido ao longo de 2019. Nas importações, o volume de negócios atingiu a casa dos 26,8 bilhões, 12,9% a menos que no ano anterior. Com isso, a corrente fechou 2020 em 55,1 bilhões, diminuição de 13,1% na comparação com 2019 - quando o total de transações foi de 63 bilhões de dólares.

 

Mesmo com essa queda e sinais de crise que persistem em países como Portugal, Espanha e Grécia, a União Europeia segue como segunda maior parceira comercial do Brasil, atrás da China (corrente de comércio de 101 bilhões em 2020) e à frente dos Estados Unidos (46,5 bi). Com aproximadamente 450 milhões de habitantes, o bloco europeu representa um grande potencial para empresas brasileiras que desejam iniciar ou ampliar seu processo de internacionalização. Mas, assim como outros países e continentes abordados nos nossos artigos anteriores, a UE possui características próprias que precisam ser muito bem estudadas e compreendidas antes de se iniciar qualquer negociação. Abaixo, listamos alguns pontos que precisam ficar sempre no seu radar ao lidar com fornecedores ou importadores europeus.

 

Mercado maduro

 

Inovação nem sempre é a característica mais procurada por um consumidor europeu ao fazer qualquer tipo de compra. Por ser um continente mais envelhecido e tradicional, as escolhas de consumo de sua população também tendem a ser mais maduras e conservadoras. “Além disso a cultura europeia é muito diferente da nossa ou dos Estados Unidos. O apelo ao consumo é muito menor, principalmente entre as gerações mais idosas. A gente costuma falar que são mercados acomodados, acostumados a comprar sempre o mesmo tipo de produto e dentro de estruturas já muito bem sedimentadas. Não existe um estímulo à agressividade, nem para as empresas que competem nos diversos setores, nem para os consumidores”, destaca Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior.

 

Por isso, as qualidades mais visadas para qualquer espécie de mercadoria serão sempre qualidade, confiabilidade e comodidade. Por outro lado, estamos falando de um bloco econômico cuja população tem, em média, um poder de compra altíssimo na comparação com outras partes do mundo. Por isso, preço não costuma ser um impeditivo para a entrada de bons produtos nos mercados europeus. Se o item for de qualidade e agregar valor ao alto padrão de vida dos habitantes destes países, ele poderá ter uma boa acolhida.

 

Uma opção para testar a aceitação de alguma mercadoria pode ser fazer uma “entrada à portuguesa” no bloco, ou seja, iniciar as operações em Portugal, que é uma porta de entrada interessante para as empresas brasileiras pelos laços econômicos, facilidades linguísticas e similaridades culturais.

 

Acordo Mercosul-UE

 

Importantíssimo para alavancar o volume de negociações entre os dois blocos, o que beneficiaria profundamente o Brasil, o acordo de livre comércio levou 20 anos para ser assinado. Em junho de 2019, as negociações iniciadas em 1999 enfim terminaram e o acordo foi concretizado. Entretanto, ele ainda não está valendo porque precisa ser ratificado pelos congressos nacionais dos países que compõem o bloco e, sobretudo, pelo Parlamento Europeu. Nas últimas semanas, ministros europeus realizaram diversas reuniões para tratar do assunto, mas atualmente a ratificação do acordo está travada em impasses gerados pela política ambiental brasileira, considerada muito permissiva e nociva pela ótica europeia. Os recordes de desmatamento dos últimos anos e a falta de metas para melhorar a proteção ao meio ambiente brasileiro têm provocado pressões contrárias ao acordo na Europa.

 

Se ratificado e colocado em prática, o acordo funcionaria principalmente para diminuir ou até zerar taxas de exportação de alguns produtos, além de desburocratizar, agilizar e baratear trâmites de importação, exportação e trânsito de bens. No caso da tributação, a desoneração seria feita de maneira gradual, com níveis decrescentes ano a ano. Outro grande atrativo para as empresas brasileiras seria o acesso ao mercado de licitações da UE.

 

Produtos prime

 

Quando falamos das importações que fazemos da UE, alto nível de qualidade também é a melhor definição para descrever os produtos que compramos. Por aqui, são consideradas mercadorias prime, que vão desde itens altamente tecnológicos e de vanguarda na construção civil (especialmente da Espanha) até chocolates. “Buscamos muitas coisas de alto padrão deles. Diversas feiras - como as de Milão, focadas em design, moda e móveis - são as principais referências para o mundo inteiro, onde todos buscamos novidades. Além disso, vemos muitos produtos europeus nas seções gourmets de supermercados, especialmente azeites, vinhos, chocolates e etc. Então há muito campo para quem deseja atuar importando da Europa estes itens especiais”, aconselha Kono.