Não ignore o potencial para negócios da África
Continente menos desenvolvido do planeta, a África vive enfrentando severas crises econômicas, políticas, sanitárias e alimentares
Continente menos desenvolvido do planeta, a África vive enfrentando severas crises econômicas, políticas, sanitárias e alimentares. Por isso, muitas vezes investidores estrangeiros ou até mesmo potenciais parceiros para transações de exportação e importação acabam dando as costas para os países de lá. A insegurança jurídica, os constantes conflitos civis e a incerteza financeira também são fatores que atrapalham as operações na maior parte das nações africanas. Mesmo assim, trata-se de um continente com aproximadamente 1,3 bilhão de habitantes, o segundo mais populoso do mundo, portanto com muitas oportunidades para quem souber entender estas complexidades e tiver disposição para trabalhar superando as adversidades.
Embora este mercado não deva ser ignorado, ultimamente o Brasil perdeu presença no continente - sobretudo em países importantes como a Nigéria, África do Sul e Angola - e viu a corrente de comércio com o bloco diminuir ano a ano. Um estudo divulgado pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) aponta que a corrente de comércio (soma das importações e das exportações) entre o Brasil e a África encolheu de 20,3 bilhões de dólares em 2011 para 8,3 bilhões em 2020, considerando os três primeiros trimestres de cada ano neste período. Estes números representam uma expressiva queda de 59% no volume de negociações no intervalo de uma década. Ao mesmo tempo, a China aproveitou os últimos 10 anos para consolidar sua posição como principal parceira comercial da maior parte dos países africanos, em alguns casos ocupando justamente o vácuo deixado pelas empresas brasileiras.
Mesmo que inicialmente possa parecer desanimador, este cenário também significa uma chance de retomada dos patamares anteriores e estabelecimento de novos vínculos comerciais. Listamos, abaixo, algumas dicas sobre como as empresas brasileiras podem se aproximar destes mercados.
Preço é tudo
Quando o assunto é vender para África, o fator mais importante a ser levado em conta é o preço. Os compradores de lá costumam priorizá-lo em detrimento de todos os outros. Portanto, a mercadoria mais acessível será sempre a mais cobiçada, independente do segmento ou do país. “Chega a ser impressionante como o preço é mesmo o principal, disparado. Até mesmo nos países mais estabilizados economicamente e que têm uma parcela maior da população com poder aquisitivo mais alto. O importante é sempre o custo. Então, quem levar até lá qualquer mercadoria cm o menor preço, sai muito na frente”, garante Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior. Neste contexto, novamente os alimentos industrializados, que são produzidos em escala gigantesca pelo Brasil, têm forte penetração em praticamente todas as partes do continente.
Uma estratégia interessante para baratear o processo de exportação e, consequentemente, o custo dos produtos nas prateleiras é abrir filiais na África. Em muitos países, há importantes incentivos fiscais para o estabelecimento de empreendimentos, mas é preciso tomar muito cuidado e estudar minuciosamente as condições jurídicas, sociais e, especialmente, políticas. “A abertura de uma filial pode ser muito interessante ao trazer várias vantagens competitivas, mas é fundamental pesquisar seriamente as circunstâncias e contar com o apoio de assessorias internas ou parceiros confiáveis”, adverte Kono.
África do Sul é logo ali
País com maior PIB do continente e mais estável que os demais, a África do Sul é uma excelente porta de entrada. Por lá, inúmeras grandes redes de distribuição vendem de A a Z para diversos países. Conseguir um bom contato entre estas companhias costuma significar o início de um processo de internacionalização mais tranquilo e com possibilidade de boas margens de lucro dentro de variáveis mais seguras e confiáveis.
Nos últimos anos, produtos como açúcar, milho, proteína animal (de diversas formas), mercadorias da indústria de transformação em geral, papel e gorduras e óleos vegetais figuram entre os principais itens que os compradores africanos desejam do Brasil. Empresas que já atuam nestes setores podem se beneficiar desta grande demanda para ampliar seu alcance pelo mundo.