Lucre com a importação de alimentos gourmet e produtos premium

Passados 16 meses desde o início das medidas restritivas adotadas em boa parte do Brasil para tentar combater a proliferação do vírus da covid-19

Passados 16 meses desde o início das medidas restritivas adotadas em boa parte do Brasil para tentar combater a proliferação do vírus da covid-19, podemos afirmar, sem chance de errar, que muitos hábitos dos brasileiros foram drasticamente alterados por causa da pandemia. Se antes o grosso da população consumidora do país - sobretudo classes C e B - costumava gastar um volume considerável de dinheiro em restaurantes, bares e outras opções de lazer, hoje estes investimentos em tempo e alimentação de qualidade estão sendo feitos dentro dos lares. Um exemplo claro disso é que o brasileiro passou a cozinhar muito mais em casa: segundo levantamento feito pela plataforma Gente, do Grupo Globo, 48% dos brasileiros afirmaram que aumentaram o número de refeições feitas em casa. Outro dado interessante, este divulgado  pela Behup, empresa especializada em estudos de consumo: o número de pessoas que passaram a se alimentar exclusivamente dentro de seus domicílios subiu 34,5%.

 

Neste cenário, a importação de alimentos considerados gourmet e produtos premium diversos, entre eles utensílios domésticos e culinários de marcas estrangeiras famosas, tornou-se uma empreitada animadora e com boas margens de lucro, uma vez que lida com itens de alto valor agregado. Estudo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) aponta que o Brasil gastou 33,6% mais com a importação de alimentos industrializados em 2020 na comparação com o ano anterior, passando do 20,8 bilhões de reais/ano para 27,8 bi/ano. E a tendência é de um novo crescimento em 2021.

 

Mas para participar deste bom momento não basta sair comprando qualquer tipo de produto de fora. É fundamental estudar as tendências de consumo atuais - principalmente dos consumidores com considerável poder aquisitivo e mais jovens, entre 30 e 40 anos, tipicamente mais abertos a novidades estrangeiras de qualidade -, as dificuldades logísticas para cada tipo específico de produto e a possibilidade de colocação deles no nosso mercado.

 

Um dos países mais beneficiados por esse movimento do consumidor brasileiro em direção aos alimentos gourmet foi a Itália. Ao longo de 2020, as importações de pães, biscoitos e doces italianos cresceram 65,16% em volume, aponta estudo realizado pela Italian Trade Agency (ITA). Também houve aumentos consideráveis na compra de vinhos (+30%), arroz especial para risotos (+26,5%) e azeite de oliva (+20,4%). No total, o Brasil importou 231 milhões de dólares em alimentos e bebidas italianos em 2020. Ainda segundo o levantamento do ITA, a maior parte do consumo das mercadorias está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, que dispõem de boas cadeias logísticas, com vários aeroportos internacionais e portos para a chegada e distribuição destes itens.

 

Outro ramo que vem crescendo muito é o dos chocolates. Atualmente, os principais parceiros do Brasil neste setor são Argentina, Estados Unidos, Itália, Suíça e Bélgica, que fornecem mercadorias mais sofisticadas capazes de agradar a uma considerável parcela da população disposta a investir em qualidade. A busca por chocolates gourmet, por exemplo, vem crescendo até três vezes mais que a pelos chocolates tradicionais, indica a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicad).

 

Um dos entraves para o aumento do consumo de alimentos premium é a desvalorização do real diante do dólar, uma vez que todas estas mercadorias são tabeladas na moeda norte-americana. Outro ponto a ser levado em consideração é a logística mais complexa para os produtos com menor prazo de validade. Nestes casos, um supply chain mal-elaborado ou um grande represamento nos estoques de supermercados e lojas especializadas pode levar a grandes prejuízos. Também é muito importante ficar atento às exigências vigentes em relação a rotulagem, embalagem, certificações, licenças de importação e regras sanitárias específicas para cada alimento. Por isso, é fundamental analisar com calma, muita informação e ajuda de especialistas o melhor segmento de produtos e sua viabilidade no mercado brasileiro antes de iniciar processos de importação.