Importe para deixar sua empresa independente
A pandemia trouxe algumas lições valiosas para quem atua ou pretende atuar com o comércio exterior
A pandemia trouxe algumas lições valiosas para quem atua ou pretende atuar com o comércio exterior. Aprender a não ser dependente do mercado interno talvez seja a mais importante destas lições, principalmente para as empresas brasileiras que necessitam de matérias-primas que podem ser facilmente encontradas fora do país. No artigo da semana passada, nós vimos como a covid-19 desequilibrou e até interrompeu totalmente o supply chain de alguns setores, causando prejuízos a diversos segmentos industriais. Depois do susto e da crise, é hora do aprendizado.
Quando há um processo bem desenvolvido e sólido de internacionalização, o leque de produtores disponíveis aumenta consideravelmente, fazendo com que a empresa não fique refém de alguns poucos fornecedores locais, que podem descontinuar suas linhas ou não dar conta da demanda, deixando de honrar total ou parcialmente seus contratos. Outro exemplo negativo são as empresas que compram de importadores brasileiros, o que encarece sem necessidade a sua cadeia de suprimentos em vez de ir direto à fonte estrangeira.
Uma empresa que opera no mercado externo com planejamento e foco consegue se tornar independente rapidamente. As recompensas são a redução de riscos e custos e a ampliação do contato com parceiros comerciais sólidos, além, é claro, do aumento das margens de lucro.
“Estar aberto ao comércio exterior garante vantagens a qualquer empresa. Quando você já está dentro do comércio exterior, você consegue absorver oportunidades no mundo inteiro muito mais rápido. É o que nós fazemos para os nossos clientes: estamos sempre atentos às melhores oportunidades e temos condições de ajudá-los a concretizar negociações que são mais rentáveis para eles, mesmo com a pandemia”, garante Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior.
Histórico com o fornecedor
Outra lição: quem está há mais tempo em contato com fornecedores de fora leva vantagem nos momentos de crise ou turbulência. Durante os primeiros meses da pandemia, quando houve muitos atrasos nas entregas, paralisações de linhas de produção e diminuição geral da oferta de certas mercadorias, instalou-se um verdadeiro caos em alguns segmentos, que simplesmente perderam seu fornecimento.
“No caso dos químicos para espuma, por exemplo, contêineres chegavam aos portos e o pessoal acabava ‘brigando’ para conseguir alguma quantidade do produto. Quem já importava antes, que tem histórico com o fornecedor, teve prioridade. É importante entender como funciona a cabeça dos fornecedores: quando a demanda triplica, para quem eu vou dar prioridade? Para uma empresa nova que está aparecendo agora ou para aquela empresa que já compra comigo há 5 anos e tem um volume frequente e regular?”, explica.
Apesar de um bom relacionamento ser uma das chaves do sucesso de qualquer parceria comercial, Kono destaca que este fator é ainda mais importante quando se trata de comércio exterior. Por isso, a credibilidade de uma assessoria especializada que já mantém sólidos contatos mundo afora é um diferencial decisivo. “As relações internacionais são muito mais baseadas na confiança, até pela questão de prazos e distâncias. E esse tipo de relação leva um tempo para ser criada, então seja com o ‘mar calmo’ ou com a ‘tempestade’, quem se antecipa e planeja sai na frente dos concorrentes”, aponta.
Olho no dólar
A terceira dica é manter o olho na cotação do dólar. A expectativa atual do Banco Central para o final do ano é de que o dólar caia para cerca de R$ 5,10, talvez R$ 5,00. Hoje, a moeda norte-americana está rondando a casa dos R$ 5,50. Se este melhor cenário (dólar a R$ 5,00 ou menos) se confirmar, isso significará uma redução de quase 10% no preço de qualquer mercadoria comprada de fornecedores estrangeiros, o que aumenta ainda mais a competitividade das empresas que importam, independente do volume ou gênero de produto.
“Além disso, recentemente o governo percebeu o problema de desabastecimento em alguns setores e reduziu ou zerou alíquotas de importação de diversos itens. Este é um outro fator que beneficia quem importa, por isso é importante iniciar o quanto antes a internacionalização da empresa para poder aproveitar estas melhoras tributárias”, lembra Kono. Aliás, este foi o tema de um de nossos artigos publicados no começo de março, logo após o anúncio feito pelo Ministério da Economia