Frete alto Ásia-Brasil abre oportunidades no Mercosul

Diante do desafio logístico dos últimos dois anos, faz-se necessário rever as estratégias e fornecedores.

“Está tudo muito caro”. Você já deve ter ouvido essa frase diversas vezes nos últimos dias. Também sentiu no bolso que não se trata de uma figura de retórica. A moeda brasileira está desvalorizada frente ao dólar e isso traz implicações para toda a cadeia produtiva.

No comércio exterior, existem dois cenários: antes e depois da pandemia do coronavírus. Se até o final de 2019, início de 2020, pagava-se de US$ 800 a US$ 1.000 por um container de 40 pés, no trajeto Ásia-Brasil, hoje este valor aumentou 20 vezes. “Nunca, em toda a história, os valores dos fretes estiveram tão altos. É um aumento sem precedentes e sem perspectiva de redução a curto prazo”. A análise é do diretor da W.Brazil Trader, Ricardo Kono. Um container de 40 pés pode transportar até 27 toneladas, ou 65 metros cúbicos, dependendo do formato do produto. O cálculo de volume é feito pela multiplicação do comprimento x altura x largura.

Trazer produtos da China hoje pode custar de US$ 12 mil a US$ 20 mil, dependendo do produto, rota e porto de onde será despachado. “Assim como o Brasil, a China é um país continental. Fazendo uma comparação, é como se um produto saísse de Itajaí, em Santa Catarina, ou do Pará. A logística e os custos variam muito”, explica Kono.

Se para os empresários brasileiros, os valores assustam, nos Estados Unidos ficou ainda pior. “Temos informações que o frete entre China e Estados Unidos começa em US$ 25 mil e pode chegar a US$ 40 mil por container”, revela o diretor da W.Brazil Trader.

 

Oportunidade de rever estratégias e fornecedores

 

Diante do desafio logístico dos últimos dois anos, faz-se necessário rever as estratégias e fornecedores. “Este é o momento de buscar alternativas de gerenciamento do caos que pode inviabilizar financeiramente muitos negócios”, pondera Ricardo Kono.

A equipe da W.Brazil Trader é preparada para colocar em planilha o custo de fretes de vários agentes. “Realizamos diversas cotações, contatamos vários fornecedores para oferecer ao empresário brasileiro custos menores. Isso dará condições para que as transações comerciais se viabilizem”, completa. Com esses levantamentos e comparativos, ganha-se com a disputa entre operadores logísticos concorrentes. “Como em todo segmento, existe variação de preços. Com negociações firmes e transparentes, podemos economizar de US$ 500 a US$ 2.000 por container. É um desconto considerável no custo de transporte”.

Além dessas negociações, Ricardo Kono lembra do acordo com os países do Mercosul. “Não podemos nos fixar apenas no preço direto praticado pelos agentes chineses. As parcerias comerciais com o nosso bloco econômico podem trazer diferenciais muito competitivos”, assevera.

Os vizinhos do Brasil, embora não tenham um parque fabril tão diverso quanto a China, possuem produtos que podem ser muito atraentes ao empresário brasileiro. Com a possibilidade de fazer o transporte via terrestre, o impacto do custo do frete na planilha de custo acaba sendo menor, neste cenário tão adverso com a China. “Fazendo uma busca aprofundada, certamente, consegue-se descobrir muitos produtos interessantes, com mercado e viável economicamente para ambas as partes”, ressalta.

Kono afirma também ser possível economizar com a logística de produtos que entrem no Brasil pela Argentina, Uruguai, Paraguai porque cada um deles tem autonomia de negociação com fornecedores mundiais. “Como as questões tarifárias no Mercosul são muito claras e nos beneficiam, pode ser que até mesmo um produto chinês consiga entrar no Brasil via Paraguai, por exemplo, com um custo muito menor, desde que haja um processo produtivo no país. É uma oportunidade que deve ser colocada na mesa de negociação”, conclui.