Exportação de alimentos: grande potencial brasileiro

Produtos agropecuários respondem por uma importante fatia do volume de vendas brasileiras para outros países

 

Produtos agropecuários respondem por uma importante fatia do volume de vendas brasileiras para outros países. Em 2020, o setor faturou quase 45 bilhões de dólares, o que representa 21% das exportações do Brasil. A boa notícia para empresas de alimentos e produtores rurais que pensam em iniciar sua atuação no mercado externo é que 2021 deve assistir a um aumento considerável do volume de exportações agropecuárias, com alta esperada de 15,5%, chegando a cerca de 52 bilhões de dólares no ano. Outro fato a se comemorar é a abertura de 24 novos mercados para produtos de origem animal ao longo de 2020 - entre eles o Estados Unidos, que voltou a importar carne bovina. Além disso, desde janeiro de 2019 o Brasil conseguiu estabelecer 100 novos mercados em diversas partes do planeta para produtos agropecuários - derivados de aves (carnes, miúdos e farinhas) estiveram entre os mais procurados, com 13 aberturas, seguido pelos bovinos (11), plantas (9), suínos (8), material genético bovino (8), lácteos (7) e frutas (5). Outro dado animador: na comparação entre os 10 primeiros meses de 2019 e mesmo período de 2020, a movimentação de produtos agropecuários nos portos brasileiros passou de 16% do volume total movimentado para 21%. Ou seja: o mundo deseja cada vez mais consumir alimentos brasileiros.

Para participar desse bom momento com eficiência e sempre atendendo às rigorosas exigências dos clientes de fora, são fundamentais um bom planejamento e o suporte de especialistas em operações internacionais. Para Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior, um bom ponto de partida é identificar qual país teria abertura para cada tipo de alimento. “Nós sempre fazemos um estudo para entender onde é possível encaixar determinado produto. Dependendo do segmento, conseguimos identificar as feiras mais importantes e definir, junto com o cliente, os mercados para os quais será vantajoso exportar, sempre aplicando da melhor maneira possível os recursos que ele pretende investir para iniciar sua internacionalização”, destaca.

Proteína animal

Por causa dos riscos à saúde que estes alimentos podem provocar caso estejam em situações inadequadas de conservação, as regras do mercado de proteína animal estão entre as mais exigentes do comércio exterior. Um grande aliado dos produtores brasileiros é o selo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F.), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), respeitado internacionalmente por significar que os alimentos importados do Brasil passaram por diversas etapas de fiscalização e inspeção, garantindo sua qualidade e atendendo a legislações nacionais e internacionais. Atualmente, o Brasil exporta proteína animal para mais de 180 países.

Para alguns mercados, além do S.I.F. é necessário cumprir outras exigências. Sonho de consumo de qualquer frigorífico brasileiro pela perspectiva de grandes negócios, a China é um dos clientes mais exigentes do mundo. Atualmente, apenas cerca de 30 empresas deste segmento exportam para o gigante asiático. “Eles são bem rigorosos, cada carga precisa ter uma inspeção para comprovar que está seguindo os padrões, fiscais do MAPA analisam se as carnes estão de acordo com os critérios do governo chinês, com a etiquetagem específica. Se essas demandas não forem atendidas, a carga sequer sai do Brasil”, detalha Kono.

Além do S.I.F. internacional, os produtores brasileiros também precisam ficar muito atentos às certificações, que costumam variar de país a país conforme critérios técnicos, sanitários, culturais e religiosos.

Criar demandas

Nem só de proteína animal e soja vivem as exportações de alimentos do Brasil. Embora as projeções para a commodity estimem em 25% o aumento do preço do grão ao longo de 2021, tornando-a ainda mais lucrativa e importante para a balança comercial brasileira, o mercado externo também está muito interessado em outros tipos de alimentos cultivados por aqui, entre eles os considerados “não tradicionais”. Dados do MAPA apontam a abertura, em 2020, de novos mercados para itens como castanha de baru (Coreia do Sul), mudas de coco (Guiana), milho de pipoca (Colômbia), gergelim (Índia), ovos em casca (Singapura) e abacate (Argentina), entre outros produtos.

Além de ficar atento à costura destes acordos, o produtor também pode atuar levando sua marca às feiras internacionais, estabelecendo contatos com potenciais clientes e preparando terreno para futuras negociações. Desta forma é possível criar demanda onde não havia, abrindo um novo filão do zero e saindo à frente dos concorrentes. Kono cita como exemplos de grande sucesso o açaí, o pão de queijo e o melão doce de redinha, produtos bastante comuns no mercado interno, mas que até pouco tempo atrás eram desconhecidos internacionalmente. Hoje, eles desfrutam de grande demanda. “Algumas empresas fizeram negócios fantásticos ao perceberem estas oportunidades. A gente costuma chamar este processo de ‘educar o mercado’. É possível fazer isso participando de feiras, promovendo degustações e apresentando o produto aos novos consumidores”, explica.