A crescente demanda dos países árabes por alimentos do Brasil

Segundo maior destino da produção do agronegócio brasileiro

Segundo maior destino da produção do agronegócio brasileiro - atrás apenas da China-, o bloco de 22 países do Oriente Médio e do norte da África que compõem a chamada Liga Árabe vem apresentando crescimento, ano após ano, nas relações comerciais com o Brasil. Segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, em 2020 o Brasil exportou 11,47 bilhões de dólares para aquela região e importou 5,36 bilhões em mercadorias, uma corrente de comércio de 16,83 bilhões, com superávit de 6,11 bilhões. Em 2019, o volume total de negociações havia ficado na casa dos 15,8 bilhões de dólares (10,8 em exportações e 5 em importações), ou seja, mesmo com a pandemia da covid-19 houve um aumento de 6,32% no total de negócios concretizados com os países árabes.

 

Análise publicada em 2020 pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP aponta que as exportações do Brasil para a Liga Árabe subiram, em média, 8,8% ao ano, e as importações cresceram 5,1% ao ano entre 1997 e 2019, o que comprova que este é um mercado em pleno crescimento e com muitos potenciais ainda inexplorados. No artigo de hoje, preparamos algumas dicas e análises sobre como sua empresa pode se beneficiar exportando para lá. Confira:

 

Alimento é o carro-chefe

 

Extremamente dependente do Brasil para obter alimentos - estima-se que 80% de toda comida consumida no Oriente Médio tenha procedência brasileira -, o bloco precisou aumentar o número de parceiros comerciais brasileiros para poder sobreviver diante da concorrência da China, que também elevou seu consumo ao longo de 2020 na esteira das consequências da maior crise sanitária da história do planeta. Prova deste aumento nos contatos é que o Egito, logo no início da pandemia, habilitou de uma só vez 42 frigoríficos brasileiros para poder manter sua linha de fornecimento de proteína animal.

 

Cerca de 70% dos produtos consumidos pelos árabes do Brasil estão na seguinte lista: carne de frango, miúdos e pedaços de carne de frango congelada e carne bovina desossada congelada, além, é claro, de commodities como a soja e o milho. Alimentos industrializados, que atualmente respondem por 18% de toda a exportação brasileira mundo afora, também estão no radar do bloco. “Mas quando se fala em comida, o que eles procuram muito é mesmo a proteína animal abatida e processada seguindo todas as exigências culturais e religiosas do método muçulmano conhecido como halal. Por isso, abatedouros, frigoríficos e demais empresas do setor que desejam ampliar seus mercados em direção ao Oriente Médio precisam se preparar para obter as certificações e manter os padrões exigidos por estes consumidores. Hoje em dia, até o pão de queijo precisa ser halal para entrar no Oriente Médio”, afirma Ricardo Kono, diretor da W.Brazil Trader, empresa de assessoria em comércio exterior.

 

Consumidores, aliás, que não param de se multiplicar: estima-se que atualmente o mercado para proteína halal tenha 1,8 bilhão de consumidores muçulmanos e projeções feitas pelo think tank norte-americano Pew Research Center apontam que a população muçulmana em todo o mundo será 73% maior em 2050 do que era em 2010.

 

Prepare-se para negociar

 

Não é exagero pensar que os árabes são negociadores milenares. Embora atualmente o petróleo seja um produto extremamente rentável que representa boa parte da receita dos países do bloco, durante muito tempo estas economias ficaram dependentes do comércio para sobreviver. Por isso, a experiência de séculos e mais séculos negociando mercadorias pode falar muito alto. “É importante saber que se trata de um jeito diferente de fazer transações, há muitos detalhes culturais, certos ritos e é fundamental entender estas características e respeitá-las. Também é necessário ter muita paciência e criar confiança, uma relação sólida. O segredo, aqui, é se planejar para poder atender estes compradores no tempo deles e ter abertura e capacidade logística para, por exemplo, apresentar seus produtos fisicamente. Estes mercados gostam muito de ver a mercadoria e firmar negócios com um bom aperto de mão”, detalha Kono.

 

Uma excelente porta de entrada para os países árabes é a Expo Dubai, a maior feira multisetorial de negócios do mundo. Adiada em 2020 por causa da pandemia, ela deve ser realizada entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022. “A gente vê a riqueza de Dubai e acredita que ela esteja calcada apenas no petróleo, mas o fato é que apenas 10% do PIB deles vêm do óleo e seus derivados, o restante é proveniente de negócios. Um evento como este é uma grande chance para encontrar e criar relações com parceiros muito interessantes. Outro detalhe: Dubai é sede de muitos hubs, que são centros de distribuição que atendem diversos países da região, portanto grandes oportunidades para exportadores brasileiros”, revela